Breaking News
Popular News






Enter your email address below and subscribe to our newsletter

Imagine um software tão eficaz em devolver às pessoas sua soberania financeira que acabou incomodando o governo a ponto de levar seus desenvolvedores à prisão. Foi exatamente o que aconteceu com a Samourai Wallet, um projeto de código aberto que permitia aos usuários de Bitcoin (BTC) movimentar suas moedas com o máximo de privacidade possível.
Em abril de 2024 autoridades dos EUA prenderam dois programadores, Keonne Rodriguez, de 37 anos, e William Lonergan Hill, de 67 anos, sob acusações de facilitarem a lavagem de dinheiro proveniente de mercados negros da darknet como Silk Road e Hydra Market.
De acordo com um recente comunicado à imprensa, a Samourai Wallet foi responsável por ofuscar a origem ilícita de mais de US$ 237 milhões em BTC. Os responsáveis pela carteira receberam sentenças de 4 a 5 anos de prisão, e 3 anos de supervisão após a soltura. Além disso, ambos pagaram multas de US$ 250 mil e devolveram cerca de US$ 6,3 milhões referentes ao que lucraram ao oferecer o serviço de coinjoin para os mais de US$ 237 milhões em “bitcoins sujos”.
Coinjoin é uma técnica de mistura de moedas com o intuito de anonimizar cada saldo ao final do embaralhamento. E, embora a Samourai não custodiava nenhum fundo dos usuários, ela coletava uma taxa por oferecer o serviço.
É importante notar que técnicas que aumentam sua privacidade não são problemáticas em si, mas a suposta origem ilícita dos fundos. Existem diversas razões legítimas para manter um razoável nível de anonimato, incluindo segurança pessoal.
Além do coinjoin, chamado pela Samourai de Whirlpool, ela também desenvolveu outra solução lucrativa, o Ricochet. Nada mais era do que a criação de transações intermediárias antes do envio de moedas ao destino final. O Ricochet é útil principalmente para enviar moedas para empresas e serviços que possam não aceitar moedas que vieram diretamente de um coinjoin.
Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, os criadores da carteira Samourai não só desenvolveram e ofereceram esses serviços, mas ativamente promoviam para criminosos e sabiam que a tecnologia era usada como “lavagem de dinheiro para bitcoin”. Por conta disso, o site SamouraiWallet.com foi apreendido e a carteira teve que ser abandonada.
Já que a Samourai não era custodiante, na prática para os usuários bastou que recuperassem seus fundos em outra wallet. Mas agora surgiu uma alternativa similar.
Ainda em setembro de 2024, desenvolvedores anônimos (que dizem não ter ligação direta com o time da Samourai) fizeram um fork da Samourai criando a carteira Ashigaru, com as mesmas funcionalidades. Um fork, neste contexto, é a criação de um novo software a partir do código aberto de outro.
Para baixar a Ashigaru, disponível para Windows, macOS, Linux e Android, você precisa do Tor Browser, que roteia sua conexão por múltiplos servidores criptografados e oculta seu IP. Que outra carteira leva a privacidade tão a sério a ponto de exigir proteção antes mesmo da instalação?
Em sua página oficial, a equipe da Ashigaru deixa claro qual é o princípio que orienta o projeto: “qualquer pessoa deve poder participar em comércio pacífico, voluntário e privado na Internet sem rastreamento, vigilância ou censura”. A proposta, portanto, não é apenas tecnológica, mas também filosófica. O grupo se posiciona abertamente contra a vigilância digital e vê a privacidade como um direito fundamental, especialmente em transações financeiras.
A Ashigaru surge então como uma tentativa clara de manter e melhorar ferramentas que preservem a soberania financeira em um ambiente cada vez mais hostil à privacidade.

A primeira funcionalidade simples e útil introduzida na Samourai e continuada na Ashigaru é a PayNym, um método para criar códigos de pagamento reutilizáveis para receber bitcoins sempre em um novo endereço.
Com a carteira aberta, basta clicar no botão com símbolo de “+” e selecionar “PayNyms” e clicar no símbolo de compartilhamento. Ali você verá um QR Code e um código em texto, as duas coisas servem como seu código de pagamento para qualquer usuário que tenha uma carteira que também use os PayNyms.
O que esse código faz, na prática, é gerar um endereço de recebimento diferente para cada pessoa que lê o código e tenta realizar um pagamento para você. Essa é uma forma muito mais privada de receber pagamentos ou doações, pois não expõe seus outros recebimentos e saldo total para cada pessoa que lhe faz um envio de BTC.
A segunda é a Stonewall, uma solução elegante para aumentar o número de interpretações possíveis daquela transação, caso ela seja analisada por um agente externo. Explico melhor a seguir.
As transações de bitcoin são públicas, o que é bom para prevenir fraudes e aumentar a confiança geral na rede, mas revela desafios para a privacidade. Isso significa que qualquer pessoa pode ver o que aconteceu no blockchain, só não vê nomes, apenas endereços.
Mesmo assim, analistas usam “heurísticas”, que nada mais são do que chutes bem informados, para tentar descobrir do que as transações se tratam. Alguns exemplos comuns são:
E a lista de heurísticas possíveis continua…
Então voltando para a Stonewall, o que ela poderia fazer é transformar o pagamento que usei de exemplo no item 1 acima, e dividir o troco de 0.00179202 BTC em três partes, uma replicando o pagamento de 0.00010000 BTC e outras duas de 0.00084601 BTC.
Isso adicionaria diversas possibilidades de interpretações, aumentando o grau de privacidade de quem realiza esse pagamento (e também de quem recebe). Para utilizar você deve verificar ao final de uma transação se a funcionalidade está selecionada em “Transaction Type”.
A Ricochet, já explicada anteriormente, é ativada de forma semelhante, mas requer uma taxa adicional. Outra funcionalidade paga é o coinjoin Whirlpool, que vem com um requerimento adicional se comparado à Samourai Wallet: o usuário agora precisa utilizar o seu próprio node para transmitir as suas transações via Tor.
Criptomoedas são tão confiscáveis quanto dinheiro físico debaixo do colchão. O confisco só ocorre se as moedas estiverem em exchanges ou outras plataformas custodiantes, ou se o usuário for alvo de busca e apreensão e suas entregar chaves. Quem guarda suas próprias chaves tem mais proteção, mas ainda está sujeito à lei.
Você não pode esconder patrimônio para burlar as leis. O que é legítimo aumentar a sua segurança pessoal através de boas práticas como a utilização de carteiras focadas em privacidade.
A Receita Federal exige a declaração para quem acumula a partir de R$ 5.000 em bitcoin ou outros criptoativos e cobra imposto sobre ganho de capital em cima de vendas mensais acima de R$ 35.000.
Sim. A Receita exige informações de exchanges brasileiras e utilizam ferramentas de análises de blockchain a fim de vincular endereços a pessoas quando há algum ponto de identificação, como uma exchange.
Sim. Algumas outras carteiras de Bitcoin possuem funcionalidades semelhantes de privacidade para seus usuários, como a Sparrow, Wasabi, Electrum, ou hardware wallets como Ledger, Trezor e ColdCard.